Acendo mais um cigarro
De um maço ferido
Inalo o fumo que arruína o corpo
E me enaltece a alma
Nas noites húmida
Na rua escura
De bolsos vazios
Escuto os silêncios barulhentos
As janelas a fechar
Portas a ranger
Nos salpicos de súplicas
Na tosse dos solitários
As batidas fortes
Entre bebidas erguidas
E sorrisos embriagados
De abraços reais apenas pelo momento
Esvazio a alma de tudo e de todos
Contemplando a noite
E na menina do olho
Na retina do leito avisto o rio
Rio Douro
Aquele que viu nascer o menino
E o homem poeta
Invicta esta cidade
Que me aquece a alma
Entre ruas estritas
De gentes caricatas
E vazios genuínos
De segredos bem escondidos
Faço deste meu lugar
Este que me viu nascer
Meu escudo
Minha espada de prontidão
Erguendo as muralhas da angústia
Numa nostalgia lacrimal
Que me torna lírico
Poeta sentido
Neste poema que me viu crescer
E o cigarro se apaga
Adiando mais uma vez
A esperança de te ver sorrir
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