Seguidores

sexta-feira, 28 de março de 2014

E o cigarro se apaga

Acendo mais um cigarro
De um maço ferido
Inalo o fumo que arruína o corpo
E me enaltece a alma

Nas noites húmida
Na rua escura
De bolsos vazios
Escuto os silêncios barulhentos

As janelas a fechar
Portas a ranger
Nos salpicos de súplicas
Na tosse dos solitários

As batidas fortes
Entre bebidas erguidas
E sorrisos embriagados
De abraços reais apenas pelo momento

Esvazio a alma de tudo e de todos
Contemplando a noite
E na menina do olho
Na retina do leito avisto o rio

Rio Douro
Aquele que viu nascer o menino
E o homem poeta
Invicta esta cidade
Que me aquece a alma

Entre ruas estritas
De gentes caricatas
E vazios genuínos
De segredos bem escondidos

Faço deste meu lugar
Este que me viu nascer
Meu escudo
Minha espada de prontidão

Erguendo as muralhas da angústia
Numa nostalgia lacrimal
Que me torna lírico
Poeta sentido
Neste poema que me viu crescer
E o cigarro se apaga
Adiando mais uma vez
A esperança de te ver sorrir

Beijando o salgado

Todos escutamos as vozes secretas do adeus
As palavras secas do deserto
Os ventos que alteiam as ondas do mar
E os tempos cinzentos

Construímos altares nas dores invisíveis
E rasgamos o peito de aflição
Impacientes, naufraga-mos cada nau em nós
Uma por uma

Colhemos das flores a afeição
Insurgimos em mil e uma cores
Entre o ontem esquecido
E o amanha perdido

Beijando o salgado
Relento
Do imprestável mar
Aquém de quem apenas quer amar

A tua face

Se todas as dores fossem podadas
Pelas mãos feitas de calos
Se os amores brotassem com o sol
E as paixões na loucura da chuvas desertas

Se a ruas fossem mais largas
E as mentes menos estreitas
Se o teu beijo fosse meu
E meu terno abraço teu

Seria o sorriso no esplendor
E o amor no lugar na dor
Penetrando as noites escuras
Na nebula do pensamento

Insurgiria em mim novos céus
E uma nova terra
Plantada a beira mar
A rosa mais simples
A mais bela face
A tua face
Como rosa

De pétala encarnada
Bombeando entre minhas veias
A levitação de um hoje e um amanha
De esplendor leve
No meu mais profundo interior

Dessa velha cadeira

A terra desliza em minha face
Na poeira que gira em meu corpo
Na chegada das aves
No retorno a mim

A fé rasurada
Da cruz invertida
Falsa prontidão
No sangue que meu corpo jorra

A velha cadeira que de nada serve
Sempre vazia ,apenas me enche a memoria
De como era confortável nela sentar
Avistando o horizonte puro no olhar

Minha preces de joelhos vergados
Os pés molhados
E as roupas transpiradas
No estigma de ser eu

Aquém de ninguém
Semblante errante
Sombra do mundo
Que se ergue em mim
Como o ultimo dos suspiros
No principio do fim
Secretamente acorrentado em mim
Só em mim
O segredo do doce veneno
Dessa velha cadeira que não me deixa descansar

Não!

Não me oferecem a ilusão da paz
Não me desejem ilusões
Me arranquem a pele
Me rasguem o coração
Golpeiem minha alma
E me ofereçam a verdade
a pura realidade
e me será permitido ser louco
mas não viver como louco

Podes?

Podes me salvar do sol
me dizer quem me espera do outro lado?
Erguer vozes caladas
Inserir em mim todos as vidas inacabadas

Perder então um segundo da tua preciosa vida
E genuinamente agarrar minha mão
Enquanto assistes ao inicio
Do fim quem em mim chega

Podes silenciar meus gritos
Minhas loucuras tempestivas
Agarrar meus braços
Me guiando a um simples coração

Pode o céu ser tão azul
Na escuridão desta terra
Podes……podes??
Dar a uma outra vida tua mão

Uivam os ventos

Mais um…mais um que caiu
Mais um que ruiu
Anjo caído
Corpo sofrido

Mais um pantanal
Uma forca na garganta
Como cicatriz para a vida
Sentida..ladeada..sofrida

Na correria da angustia
Acelera o egoísmo
Sem travões
Qual escarpa ruidosa

Sopram os tempos
Uivam os ventos
E caem os alentos
Os tumultuosos sofrimentos

A vista; A Vista o mar de escassez de viveres
Enroladas ondas destruído a moralidade
Da alma que o homem vendeu
Em latas de conservas fora do prazo

Caiu…Rui mais um
Não se ouviu
No meio do silencio
Não se estendeu a mão
E o corpo partiu

No universo das vidas inacabadas
Das mentiras descaradas
Nas faces disfarçadas
Por mascaras sorridentes

Tudo o resto são ondas

Acorrento o corpo
Como castigo para a mente
Fatigada…Fatigante
Esse gigante que em forma de grito
Vive e vive o que consome de mim

Certas são as esteiras
E as castas videiras
Maduras de despojo
Que jamais me oprime

Tudo o resto são ondas
E mais ondas
Enroladas pela areia
Enroladas pelo mar

Assim como o mar
A alma alberga
Náufragos e segredos
Fora de horizonte

Que entusiasticamente aplaudem
O vazio, cheio do nada
O nada cheio de tudo
No barulho silencioso

Choras para mim. Por mim

Por quem choras morte?
E giras sobre o mundo pesado
Já de si em desespero
Haverá em ti altivez

Quando confessas que este mundo
Não é para amar
E te insurges braqueada
Como engano na noite negra

Basta…basta
Morre morte…morre
Nesta hora que vivo
E o coração pulsa

Morre. Morre
Na ânsia da vida
Na despedida, sentida
Ladeada de flores

Vai por ali
Que eu vou por aqui
Para que nos cruzarmos
Fora do tempo

Este que me resta
É meu, apenas meu
Não te pertencendo
Sequer minha ossada
Minha alma por ti jamais será levada

E nessa realidade
Choras para mim. Por mim
Morte que não mata
Que apenas nos leva para outra estrada