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sábado, 11 de janeiro de 2014

A nós os sós

Quem somos nós?
Quem ousa olhar
Para quem não quer olhar
Me deixam a sós

Os que sós
Me querem agarrar
E corromper a minha solidão
Já corrompida

Quem sois vós?
Sem voz
Para me guiar no caminho
Em que a luz escurece

Se assim fosse
Teria vestido meu melhor fato
E apartaria eu próprio
A gravata com o pescoço

Apararia minhas unhas
E esqueceria que existe luar
Subiria ao vosso altar
E ergueria minha cabeça em vossa prontidão

Tudo faria
No nada que existe
Para me acalmar
E estenderia meu corpo como tapete
Para vós me calcar

Estou sujo e preciso me lavar
Sacudir o pó
E erguer novos canteiros
Sobre o chão que lavro

Sentir o cheiro do sabão
Dos velhos tanques
Das lavadeiras
E suas bocas cantadeiras

Até então o sino tocava no cume
E o povo se aprontava
Numa rumaria espontânea
Ao primeiro rufar do tambor

Hoje somos vós
Sem voz
A sós
Guardando a velha gloria

Uma mão que estendida
De tão sofrida
Sendo agarrada
Que doa o coração

A plantação empobrecida
A árvore caída
Sem fruto ou emoção
Esperando a prometida salvação

Se extinguem todos
Os novos velho
Os velhos novos
Em jogos de amargura pura

Quem se senta agora a meu lado?
No banquete preparado
O amigo convidado
O inimigo esquecido
Do medo vencido

Quem se ergue agora
Entre as raízes que o corpo cobre
E grita eu sou quem sou
Ao desespero dos desesperos

Queria eu a embriaguez perfeita
Em vida
Sem ressaca
Ou dor que me amassa

Só mais um erguido a minha boca
E meu estomago que o acolha
E que se estique
Como pedinte

Afinal não existe gente
Neste lugar
Só sombras
Que me assombram
Em noites sem luar

Derruba quem quer derrubar
E cai quem quer se levantar
Não tenho lugar na mesa
Nem convite no bolço

Mas que raio
Que raio de lugar
É este
Que me deixam vós
A nós os sós
Ainda mais a sós

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